local: Salvador – BA
ano: 2015
área : 70,00 m2
autoria: George Almeida
fotos: Stefane Bidu

Arqueologia de interiores

A vista mar foi o que atraiu um jovem casal para aquisição desse imóvel. Não imaginavam no entanto que a vista mais panorâmica dentre aquelas oferecidas a partir do interior do apartamento estava localizada numa área em geral pouco valorizada: a área de serviços. Sensibilizado por esse aspecto o 360 arquitetura propôs critérios de intervenção de reforma que assim o valorizasse.

Espaços amplos, luz e conforto na ventilação eram também premissas expressas nos ensejos dos clientes e que se alinharam com a idéia da arquitetura. Nesse fluxo, a remoção de parte da parede de fechamento do ambiente da cozinha revelava o acesso a esse visor sobre o mar, ao tempo que integrava os espaços e possibilitava ventilação cruzada da varanda a área de serviço.

Em complemento se intuía a necessidade de algum elemento construído que induzisse o olhar para fora. É o pensar a casa na relação com o exterior, principio recorrente em muitos projetos do 360. Surge assim um vetor visual, uma “linha de força espacial”, sugerida no novo layout com a instalação de uma bancada construída in loco, em concreto, que orienta a disposição diagonal da mesa de jantar e as luminárias – concebidas em calha de perfilado de aço carbono atirantada a laje do teto – instaladas no Estar e contínua a antiga área de serviço.

A concepção de detalhes de forro pensados também como recursos para iluminação artificial, a exposição da aparência do concreto e a adoção de novos revestimentos e pisos nas áreas molhadas converteram-se em critérios da espacialidade e materialidade do projeto. Soluções que se conjugaram a premissa de baixo custo e a própria resultante do andamento da obra.

Quando foi demolida a parede do primeiro quarto, convertido num espaço de estudo e quarto hóspedes – ai foram instalados grandes painéis de correr (em MDF com fórmica lousa brilhante), com a intenção de eventualmente integrar ao Estar – a viga se apresentou como um elemento que fracionava o espaço; julgou-se por bem então evidencia-la, removendo a capa de reboco, explorando a estética brutalista do material construtivo. Por sua vez, para recomposição do trecho do piso onde antes estavam as antigas paredes, foram confeccionadas in loco soleiras também de concreto, bem como as bancadas da cozinha e sanitário casal.

Já os forros dos sanitários, uma vez condenados, foram removidos, encontrando-se as lajes com um bom estado aparente do concreto. Após lixadas, as lajes foram evidenciadas, tal como a viga no Estar, e os forros de gesso foram recompostos parcialmente, conforme desenho do 360, sobretudo nos trechos que continham instalações visíveis do apartamento do andar superior. Daí em diante, o foco foi harmonizar os materiais adotados nos planos de paredes – pintura acrílica, rodapés impermeáveis e novos revestimentos cerâmicos; detalhes de forro e iluminação, buscando criar uma unidade de tratamento para a ambiência de todo apê.

O piso existente predominante, porcelanato bege, estava em excelente estado e optou-se mantê-lo. Apenas as áreas molhadas, sanitários e cozinha, receberam o porcelanato madeirado em réguas, demarcando a nova intervenção.

A cor não configura aspecto secundário. Nos planos fixos – destaque para o volume teto /parede do corredor e “caixa” da ducha do sanitário social, combinados à disposição da iluminação indireta nas sancas de gesso – seguem uma eleita palheta de cores (azuis, rosa, cinza, madeirado). Cores mais vibrantes encontram-se em obras de arte estrategicamente dispostas.

No mais, em detalhes, não se pode esquecer uma importante presença: uma casa onde vive crianças.